Evento de Educação Médica Continuada realizado na noite de quinta, 8 de março, contou a trajetória de três médicas e homenageou as que se dedicam à profissão
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O Dia Internacional da Mulher foi celebrado pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná de uma forma diferente. Além das tradicionais homenagens prestadas às suas conselheiras e colaboradoras, iniciativa do projeto de Educação Médica Continuada do Conselho reuniu na sede, em Curitiba, e também via web, representantes que vivem o dia a dia da profissão para compartilharem suas histórias.
Na cerimônia de abertura o presidente do CRM-PR, Dr. Wilmar Mendonça Guimarães, enalteceu o trabalho das médicas paranaenses, dedicando sua fala às 13 conselheiras que integram a gestão 2013-2018. Por sua vez, o vice-presidente, Dr. Roberto Yosida, falou sobre o crescimento da EMC, sendo este o evento de número 475. Ex-corregedor, ele comentou a queda no número de sindicâncias abertas desde o início do projeto; em 2013 foram mais de mil e, em 2018, a projeção é que menos da metade sejam abertas. “Essa redução, que deve se aproximar de 60%, mostra que a educação está atingindo seu objetivo”, concluiu.
O secretário-geral do Conselho, Dr. Luiz Ernesto Pujol, deixou um recado às jovens médicas, que “com sua invejável vivacidade esperam sempre a alegria acontecer depois de algo. Depois do vestibular, depois da faculdade, depois do casamento… e correm o risco de não se permitir viver o momento de cada dia. No outro extremo, as mais antigas sabem que tudo tem seu tempo.” Para ele o importante é que o médico cultive, acima de tudo, os sentimentos, pois “é o que os nossos doentes necessitam”, ressaltou.
Dando início ao painel, a Dra. Helen Anne Butler Muralha (CRM-PR 224) falou sobre a emoção de reunir materiais de suas muitas décadas de atividade e de reviver alguns momentos com as lembranças. Ela foi a 1ª conselheira mulher do CRM-PR, na gestão 1978-1983, e ainda hoje, aos 87 anos, atua como gineco-obstetra. Para ela, a Medicina exerce um poder misterioso sobre quem a exerce, pois os médicos nunca se aposentam, nunca se tornam ex-médicos e também nunca deixam de estudar.
Dra. Helen contou sobre sua entrada na Universidade, em 1949, quando era uma das 13 mulheres ao lado de 130 homens na turma. “O trote era civilizado”, ressalta, explicando que os homens tinham o cabelo raspado e as mulheres ganhavam um banho de talco. Depois, desfilavam na rua XV e recolhiam donativos. “Nunca sentimos preconceito por parte dos homens da turma”.
Atenta às mudanças, comentou o fato de partos normais terem passado a ser “anormais”, em um momento em que a mulher quer estar no controle de tudo, com a maioria dos partos passando a ser agendados. Ela também falou sobre a diferença de relacionamento no consultório com o advento da internet e da importância do exame clínico sobre os complementares.
Ela encerrou sua fala deixando uma lição e compartilhando com as demais colegas que o que deve lhes orientar é o sentido de compromisso. “Devemos sempre dar o nosso melhor, nos aperfeiçoar e contribuir para um mundo melhor. Também temos que ter coragem para envelhecer. Sei que a hora de parar vai chegar, mas tenho fé em Deus e no seu propósito”.
A segunda apresentação da noite ficou a cargo da conselheira Viviana de Mello Guzzo Lemke (CRM-PR 11.173), especialista em Clínica Médica, Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. Apesar de ter escolhido uma área em que a atuação é predominantemente masculina – no Paraná são 744 homens e 217 mulheres cardiologistas – ela disse que nunca se sentiu desmotivada ou desvalorizada por ser mulher.
A escolha pela profissão se deu muito cedo. Ela conta que quando criança era sempre a companhia escolhida pelas amigas e vizinhas para ir ao médico. “Eu adorava ir ao hospital, adorava o cheiro do hospital, andar pelos corredores e lembro bem da forma cordial com que o médico atendia a todos”, relembra. Aos seis anos acompanhou a mãe em todo o pré-natal do irmão e então decidiu que seria médica. Atualmente, além de conselheira do CRM-PR, é presidente da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHC), função que pela primeira vez em 43 anos tem uma mulher como dirigente maior.
Nascida no Chile, a Dra. Claudia Paola Carrasco Aguilar (CRM-PR 15.022) mudou-se para Curitiba com os pais aos seis anos, quando se iniciava a ditadura militar que teve à frente o general Augusto Pinochet. Ela conta que sempre gostou de cuidar das pessoas e que um episódio envolvendo o irmão, quando ainda era criança, fez-na decidir que seria médica. Começou a carreira se dedicando ao trabalho em comunidades do Acre e Pará, na Medicina de Família e Comunidade.
Uma experiência de trabalho com a Funasa trouxe o aprendizado: “A nossa verdade não é absoluta, temos que respeitar o conhecimento e também a crença do outro, mesmo que diferente”. Uma dificuldade de diagnóstico em seu filho foi o que a motivou a se especializar em psiquiatria, com foco na saúde mental da criança e do adolescente.
Questões trabalhistas, como o fato de não ter licença maternidade, foi o que levou a Dra. Claudia a participar de grupos sindicais, espaços esses que são também predominantemente masculinos. A vida da mulher na Medicina já fazia parte de sua rotina por meio da Associação de Mulheres Médicas, sendo ela a presidente da regional Paranaense da entidade.
A noite terminou com uma breve apresentação musical e entrega de flores às conselheiras e palestrantes.
Fonte: http://www.crmpr.org.br/Os-desafios-e-conquistas-da-mulher-em-sua-atuacao-na-Medicina-11-48857.shtml